Diz-se que Jdanov puxava da caneta
sempre que ouvia a palavra “memória”:
apontava baixo e certeiro – era difícil
não lhe sorrir. Os tecnocratas,
toda a gente o sabe, têm boa pontaria.
Do 'Inferno' sabem tudo, mas do inferno
nunca ouviram falar. Percebe-se,
evidente, que lhes dá mais jeito assim.
Estão por conta do 'zeitgeist', pensam
eles, e continuam. Isso lhes basta.
A vontade é o seu elemento: descem
manípulos, orientam lâmpadas, decidem
ângulos, apõem rubricas – é surpreendente
a facilidade com que gritam
“corta!”, “rua!”, “mata!”, “não!”
- José Miguel Silva, Movimentos no Escuro, 2005
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