sexta-feira, 25 de maio de 2012

Moonrise

Moonrise, Edwin Church, 1889

"(...) Em Delos, Património da Humanidade, as pedras foram largadas às silvas e aos cardos, às lagartixas e aos corvos. Nasce um pinhal no meio de colunas. Grande parte da cidade está vedada porque se tornou perigosa. As cisternas estão cheias de água estagnada com mosquitos. As víboras rastejam na sombra. O teatro de Dionysos não se pode visitar. Nem as casas, a de Dionysos, a de Cléopatra, do Tridente. O museu está deserto de guardas, com alas fechadas. O Terraço dos Leões foi invadido pela natureza. A loja fechou. O Estado grego, sem dinheiro, sem funcionários, sem Ministério da Cultura, demitiu-se de Delos. As ervas daninhas e as flores silvestres, os répteis e os insetos devoram Delos. A cidade está submersa em vegetação e abandono e à guarda do tempo, esse grande escultor. Angkor Wat renasce, Delos morre. E que deixará esta civilização que rivalize com a beleza de uma estatueta de Afrodite ou uma figurinha de terracota? Um iPad."

Clara Ferreira Alves, Expresso 19-05-2012

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