quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Notas sobre a escola que temos hoje

Andei a ponderar se haveria de referir-me aos rankings por uma série de razões óbvias -  à excepção do meu ano de estágio, fui Professora  do básico/Secundário de uma única turma, cinco meses, em Palmeira, corria o longínquo ano de 2005 (e essa via encerrou aí) - e outras tantas menos óbvias - a começar pela sua origem e elaborada discussão pelos media, que todos os dias manipulam, dicotomizando, a sociedade, a política, a religião, para vender ou gerar tráfego. Mas agora que li que uma idiota homónima - há disso hoje aos pontapés - esteve no canal que disso detém a patente a perorar sobre Câmara de Lobos e Baião, como se essas localidades vivessem no Paleolítico médio... donde a posição que ocupam nos rankings, achei que deveria colocar os pontos nos is possíveis. É preconceito? É. Mas é, sobretudo, desconhecimento veiculado irresponsavelmente.

Alguns pontos a considerar:
- a elaboração destas classificações não é tutelada (Que pretenderão, então, os seus autores?);
- também não é científica (O meio escolar, como o social, é heterogéneo. Há factores, com diferentes pesos, a ter em conta.);
- assenta em pressupostos erróneos:
-- o privado escolhe os alunos - não, os pais dos alunos escolhem o privado (vão por mim, fiz lá a minha escolaridade toda);
-- o privado é para os ricos [argumento socialmente incendiário]: não, não exclusivamente (vão por mim);
-- os meninos do privado não têm problemas sócio-económicos [argumento socialmente incendiário]: certo, mas têm outros (tão ou mais cabeludos, perdão: determinantes).
- a escola pública não pode competir com o privado (pela falta de recursos).

O único recurso de que qualquer escola precisa são os professores.
Eles existem. Estão no público, estão no privado, até estão em outros sectores. O que o privado descobriu que faz a diferença, e o público teima em desolhar, é a vantagem de institucionalizar o explicador. (A directora do colégio que está melhor cotado, senhora que conheço bem, falava no acompanhamento pessoal. É isto.) Quando o ministério for capaz de perceber isto, mudar (quase) tudo, e implementar a figura do professor-tutor (não é professor do apoio, não é professor-terapeuta; não é professor-amigo), as diferenças esbatem-se. O professor não é um burocrata; o professor não é um assistente social; o professor não é um voluntário; o professor não é um escravo; o professor não é um saco de pancada. O professor é, dos profissionais qualificados, o menos respeitado no nosso país. E, infelizmente, o exemplo vem das cúpulas: uma pessoa lê isto e pasma.

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