segunda-feira, 28 de setembro de 2020

E outros animais

Ando a ver The Durrells, uma série britânica, mas de não crime - soçobra até a uma certa tonalidade noveleira, e a surpreender-me com a minha quase reconciliação com a juventude - na série, a relação de Louisa com os filhos escritores é muito comovente -, quando a cena do comboio me chama à realidade. Hoje, por cá, a juventude é o que eu já sabia - quem não sabia agora sabe. Uma série de senhoras sublinha, e bem, o quanto o episódio parece ter prejudicado apenas a rapariga. Há uma que vai mais longe e considera que prejudica não só a rapariga mas também os pais da rapariga. É mãe de rapazes e tem medo de amanhã se vir a confrontar com algo parecido. É muito interessante este enquadramento, porque ao pretenso receio subjaz um artifício que é o de correr a vitimizar-se também. Pais que não têm tempo para estar com os filhos e conhecê-los, pais que lhes passam para as mãos tablets e telemóveis de pequeninos, cheios de medo que os meninos, um dia, porque podem e lhes apetece, por falta de noção ou por ambição, lhes dêem cabo da vida. É assim que temos, depois da negação (Não, o meu filho nunca!) e da desculpabilização (São jovens!), a vitimização. (Por favor, não me faças uma coisa destas.) Quantas pandemias são precisas para percebermos que ter filhos é ter tempo para estar com eles, conhecê-los e educá-los todos os dias, a vida toda?

2 comentários:

  1. E quem me dera ter todo o tempo do mundo. (Faz-se o melhor que se pode...)

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  2. Sim, há muitos pais que, como tu, se preocupam e fazem o melhor que podem. Mas nem todos...

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