sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Ainda da imposição da aplicação


Às pessoas que dizem que apps todos descarregamos: pois é, mas voluntariamente. Quando e se quisermos. Quem quiser. Se eu quiser apagar o Facebook do meu iPad posso fazê-lo quando e sempre que me apetecer. 
Às pessoas que dizem que é útil para controlar a pandemia: digam-me que estudo médico o comprova. Eu aposto mais em higienizar as mãos, usar máscara e distanciar-me sempre que possível. Mas o controlo tecnológico é útil para monitorizar pessoas - a app funciona por geolocalização, como as câmaras que muitos autarcas querem instalar em todo o lado. Qual é a app que controla o impulso autoritário? A ignorância? A falta de noção? 
Às pessoas que não percebem de apps: uma app que só se pode instalar num telemóvel topo de gama é uma app que solicita acessos vários a todo o tipo de dados. É claro que as pessoas fazem-no a todo o momento. Ligam a nuvem para usar o calendário, ligam a câmara para filmar para o Instagram. Fazem-no porque querem - podem desligar tudo e desinstalar o que lhes apetecer quando e se quiserem. Não podem apagar os dados colhidos, mas podem escolher não dar mais. A nossa vida hoje passa muito por isto, mas não é porque estamos mais permeáveis ou disponíveis que a imposição é legítima. Há sempre quem não esteja permeável e disponível e o direito de resistência não expirou com a Troika. 
Às pessoas que pensam que o governo lhes vai oferecer um telemóvel: a Valentina não tinha internet e nem por isso o governo lha ofereceu. Lembram-se da Valentina, aquela criança que morreu às mãos do pai porque não tinha internet para seguir as aulas em casa da mãe? Aos idosos que não têm internet e precisam de entregar o IRS o governo não oferece internet, nem sequer serviços. É o poder local que assegura a entrega - e nem sempre... Estas e outras pequenas tiranias que desvalorizamos para podermos funcionar em sociedade não nos devem levar a aceitar tudo com medo ou de ânimo leve. 

 P.S. - Já devíamos andar a usar máscara na via pública desde sempre. Há n estudos que desde sempre o defenderam.

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