quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

O muito mau de nós

A pandemia fez-nos descobrir não digo o pior de nós, mas muita coisa que nos impediu de ter uma acção conjunta em prol das tais igualdades. A hostilidade que existe entre uma pessoa e outra, o não podermos tocar, a maneira como obedecemos ao Estado. O estado de emergência fez-nos escolher uma coisa muito má: estamos prontos a obedecer a uma instância que entra nas nossas vidas. Temos que confinar, temos que fazer isto e aquilo e obedecer. Os efeitos estão lá e são a criação de hábitos de aceitação de que uma autoridade estatal ou um Governo possam intervir e mandar na nossa vida pessoal. Isso muda completamente a nossa consciência e a própria democracia. A pandemia já mudou o campo completo de acção no espaço público, no espaço comunitário em que todos se cruzam. Já não olhamos para os outros com a espontaneidade de nos aproximarmos porque somos da mesma espécie, porque gostamos uns dos outros. O que se mostrou com a pandemia é que temos medo e o outro pode ser um perigo. (...)

José Gil em entrevista ao Público, 26-12-2020. 

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