Fico cheia de uma tristeza negra quando me dou conta de que há jovens adultos que ao lerem um texto mais elaborado - com um vocabulário mais invulgar ou uma estrutura mais apaladada - não percebem rigorosamente nada. Nada. É como se estivessem a ler uma língua estrangeira. Essa incapacidade ser-lhes-á sempre uma desvantagem grande. Eu creio saber onde está a culpa mas não me apetece dizer. Mas fico triste e tenho pensamentos amaríssimos. São gerações que vêm dos domínios da parataxe e das frases começadas por "é assim" e das despedidas terminadas por "boa continuação". Vêm dos pontos de exclamação em barda e dos lugares-comuns. Vêm do kitsch e olham todo o cuidado como um excesso exótico ou um preciosismo que rejeitam. Só eu sei a amargura que isto me dá.
Ivone Mendes da Silva, O Fulgor Instável das Magnólias.
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