Perdi a conta à quantidade de pessoas que, há uns meses, comentou comigo que com a vacina voltaríamos à normalidade, que era só mais um bocadinho no cumprimento de uma série de restrições.
A minha resposta foi sempre a mesma: não tendo a ser pessimista, mas neste caso, não acredito nisso. Por um motivo muito simples, que é o de ser suficiente observar o que se gerou de um ponto de vista sociológico.
Esta pandemia formatou a população no sentido de se almejar ao risco zero. Levou a que as pessoas interiorizassem que o objectivo é erradicar por completo os infectados, independentemente das consequências disso. Levou a que testes positivos fossem encarados como antecipação de doença ou de morte, mesmo que morra uma pessoa por dia no meio das normais 250 mortes diárias por todas as outras causas, que relacionam com o simples facto de estarmos vivos. E se estamos vivos, a morte é certa. A única coisa certa que podemos ter. Mas também a mais difícil de encarar, por quem não parece importar-se de estar morto em vida.
Por isso, tal como não foi este vírus que nos conduziu a esta realidade social, também não é a vacina que nos vai retirar dela.
O que nos levou a esta realidade absurda, em que as máscaras que nos deformam a face vieram para ficar, e vamos passar a ter certificados digitais de circulação (que é como quem diz coleiras) não é a covid. É a continuidade e manutenção desta ideia de que vale tudo para se eliminar um vírus que terá todas as mutações necessárias para permanecer, como outros vírus que nunca foram erradicados.
Por algum motivo, nos quiseram fazer crer que com este vírus tem de ser diferente e nos convenceram que não faz mal perdermos tudo e mais alguma coisa, que não interessa os custos disto tudo. O que interessa é não somar contágios ou surtos, mesmo de gente saudável. A vacina reduzirá imenso as consequências mas como não as elimina, o circo vai continuar.
O próximo Inverno vai ser prova disso. Os vacinados que já tinham medo, continuarão a sentir que só estão seguros com máscara e distanciamento. Os mortos vão aparecer em maior número do que agora, porque sempre foi assim em épocas de infecções respiratórias. Mas nada disso vai pesar.
Nós só voltaremos à normalidade quando as pessoas perceberam que não é suposto matar o vírus de vez, mas sim conviver com ele de uma vez. Que na ilusão de nos devolverem uma liberdade que nunca vai chegar, a não ser que as pessoas despertem, nos estão a retirar cada vez mais direitos fundamentais.
O resultado está à vista. Já achamos normal fazer testagens laboratoriais antes de eventos ou festas. Já aceitamos passivamente um cartão electrónico que separa os obedientes dos rebeldes, mesmo que no fim todos possam continuar a contagiar e a ser contagiados. Por isso não. A vacina não vai trazer normalidade. Só o poder interno da população a poderá trazer.
Ana Rita Dias, no Facebook.
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