Na palestra que deu na New York Public Library, ouvi Lorrie Moore dizer que educar é, de algum modo, uma tarefa inútil: a construção da personalidade é da responsabilidade da bioquímica e do código postal da residência de cada um. A palestra intitulava-se "Ver Televisão", coisa que Moore e os seus três irmãos foram mais ou menos proibidos de fazer pelos pais, devido a questões religiosas e do foro moral. A proibição não produziu neles um grande desejo uniformizado de experimentarem os prazeres da TV ou sequer um menosprezo uniformizado pelo entretenimento televisivo. Em vez disso, as reacções que daí brotaram foram de ziguezague, quatro vidas em que a TV não foi, nem deixou de ser importante, o que para Moore mais do que demonstra o pequeno papel que têm os pais, e o grande papel que têm outras coisas, principalmente o código postal, facilmente obnubilado no mundo familiar dos 1,8-a-2,2 filhos. Tudo o que é preciso, disse Moore, é uma amostra suficientemente grande para percebermos que a maior parte das pessoas se transforma naquilo que precisa de ser, independentemente do que tentam os pais.
Maria Turmarkin, Axiomático, Elsinore.
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