Agora, num tempo em que as ciclovias nascem como cogumelos, lado a lado com estradas, caminhos, passeios ou arruamento, o Ministério da Educação decidiu que os alunos do 2.º ciclo devem aprender a andar de bicicleta nas escolas. De acordo com a notícia do jornal escolhido para divulgar a novidade "Ciclismo vai ser aposta do Desporto Escolar" (DE) até 2025" (Jornal de Notícias, 13 de agosto de 2021). Quase me espantei por não fazer parte do currículo nuclear deste ciclo de escolaridade, pois as escolas tornaram-se uma espécie de família primeira para os alunos, onde parece ser necessário ensinar-lhes de tudo um pouco, poupando as famílias a essas tarefas que em tempos serviam para aprofundar as ligações pais-filhos e faziam parte do que agora se designa, mas se pratica pouco, como quality time.
(...)
A Escola que trate disso, é o que parece ser-nos dito sem grande margem para dúvidas. A escola que aprofunde a sua missão de difundir o lifestyle apresentado como saudável, tolerante, inclusivo e moderno aos jovens. Que aprendam o empreendedorismo na disciplina de Cidadania (nem me arrisco a entrar pelas questões de género), que não comam pãezinhos com chouriço ou bebam leites com muito chocolate nos bufetes da escola e que aprendam a andar de bicicleta no recinto escolar para serem cidadãos com um corpo são e poucas despesas para o Sistema Nacional de Saúde.
É um desígnio como outro qualquer, mas deixa-me dúvidas quanto a esta "nova" conceção da Escola Pública, a este "novo paradigma" de uma Educação que é transbordante em tudo, menos na parte académica, que se reduziu a "aprendizagens essenciais" para que a mente sã seja uma mente com pouca coisa lá dentro que possa provocar a fermentação de ideias desagradáveis ou problemáticas para o zeitgeist holístico que está na moda (...).
Paulo Guinote, excerto da crónica "A Escola do Efémero", JL.
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