Há dias em que descemos uns furinhos abaixo da nossa condição. Andamos, de resto, a descer vertiginosamente nessa escala desde que entrámos (segundo o discurso oficial) ou estamos (na minha óptica) nesta crise cinematográfica à espera de um super-herói que nos salve sebastianamente. Esquecemo-nos todos, eu apenas de vez em quando, que não há super-herói que nos salve porque D. Sebastião morreu longe e quem por cá anda tem filhos em que pensar.
Hoje foi um desses dias. Já se falava há algum tempo do rapaz-procura-rapariga, meio a medo de errar na aposta de que marca se trataria, meio crentes no romantismo antigo mas sempre novo nos cartazes, nas faixas, nas redes sociais, nos media. Chama-se marketing de guerrilha, li há pouco. E assassinou o amor. É verdade. A realidade muda cada vez mais rápido, e aquilo que um dos mais ilustres filósofos franceses escrevia há um par de anos - que actualmente restava ao homem o deus do amor, que se tinha deixado de acreditar em tudo, excepto no amor - deixou de se verificar.
O amor tem três mil anos. Foram as civilizações euro-asiáticas que o descobriram no primeiro milénio antes de Cristo. As religiões antigas não falavam de amor, foi o budismo o primeiro a apresentar a linguagem do amor e mais tarde o cristianismo a trazê-la para o Ocidente. O Romantismo deu-nos a possibilidade de o individualizarmos e, quanto mais não seja por isso, se não estamos todos obrigados a conhecê-lo, temos pelo menos dados culturais para o sentir.
Mas as pessoas não gostam de deuses e pelam-se por vandalizar o sagrado. Afirmam não sei quê, não sei quanto de si. Só assim se percebe que uma empresa internacional pegue na sede de esperança, o quarto canal chama-lhe entretenimento, de uma sociedade do Sul da Europa para lhe impingir um perfume feio ao nível do design, feio conceptualmente e feio publicitariamente. Na realidade, faz sentido vender o feio pelo feio. Na realidade, não faz senão sentido.
E só os tolos como eu é que vêem nisto uma pequena derrota, mais uma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário