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terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Uma maiêutica

Vivi muito com ele, mais do que normalmente uma criança vive com o avô. A sua atitude comigo foi uma maiêutica. Ensinou-me a descobrir, a amar e a admirar. Mas ensinou-me também a escolher e a criticar. Ele dizia: "Nem todos os intelectuais são inteligentes." Com ele aprendi a rejeitar os exageros, o pedatismo e o cabotinismo (...)
Sophia sobre o avô, na Visão desta semana. 

domingo, 29 de setembro de 2013

O Anjo - 2


Lurdes Castro, O Anjo de Berlim, 1978.

O Anjo que em meu redor passa e me espia
E cruel me combate, nesse dia
Veio sentar-se ao lado do meu leito
E embalou-me, cantando, no seu peito.

Ele que indiferente olha e me escuta
Sofrer, ou que, feroz comigo luta,
Ele que me entregara à solidão,
Poisava a sua mão na minha mão.

E foi como se tudo se extinguisse.
Como se o mundo inteiro se calasse,
E o meu ser liberto enfim florisse,
E um perfeito silêncio me embalasse.


- Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Era uma vez, a vida - 3

Fundo do mar

No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.

Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.

Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.

Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética I.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Os Dias de Verão

Os dias de verão vastos como um reino
Cintilantes de areia e maré lisa
Os quartos apuram seu fresco de penumbra
Irmão do lírio e da concha é nosso corpo

Tempo é de repouso e festa
O instante é completo como um fruto
Irmão do universo é nosso corpo

O destino torna-se próximo e legível
Enquanto no terraço fitamos o alto enigma familiar dos astros
Que em sua imóvel mobilidade nos conduzem

Como se em tudo aflorasse eternidade

 Justa é a forma do nosso corpo


Sophia de Mello Breyner Andresen, Dual

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Coisas que foram caindo em desuso - 4

''Os sentimentos muito profundos não se partilham. Não pertencem à História, não são do domínio público.''


Agustina Bessa-Luís em carta escrita na morte de Sophia de Mello Breyner