O nosso tempo é pródigo em amesquinhar o conhecimento. Da sala de aula à sala de imprensa pululam os peritos em distorcer o que diz quem sabe. Quando se lê na capa do jornal que mais vende em Portugal que a DGS disse que os ares condicionados não espalham vírus, uma pessoa pergunta-se se amanhã recomendarão que se lamba o chão para reforçar a imunidade. Quem saiba ler e não se compraza em deitar abaixo o especialista, leia o manual da DGS. Mas eu posso sintetizar: 1) Abrir a janela é preferível a ligar o ar condicionado. 2) O ar condicionado, a ter de ser ligado, deve sê-lo a um nível fraco. (Para ares condicionados e doenças, ver p.e. torres de refrigeração e Vila Franca de Xira).
Ando a ler The Coming Plague, de Laurie Garrett. O livro é de 1994 e impressiona. O primeiro capítulo é sobre o Machupo, uma febre hemorrágica viral descoberta na urina de ratos selvagens. Estes roedores tinham sido desalojados do seu habitat natural com a introdução da cultura do milho na Bolívia dos anos 60. Então, basicamente, os ratos deixaram o campo e passaram a viver junto das provisões alimentícias das casas. De manhã, quando as mulheres preparavam o pequeno-almoço - uma trataria disso, enquanto outra varreria o chão da cozinha - aerossóis da urina daqueles roedores contaminavam todas as superfícies, onde se incluíam, naturalmente, a comida - o pequeno-almoço.
Partículas inaláveis causam e agravam uma série de doenças respiratórias. Se não quiserem perguntar a quem sabe, perguntem em Vila Franca de Xira.
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